NOSSA HISTÓRIA

10/11/2013 - Criamos, meu marido e eu, um perfil em um site de swing. Apenas por curiosidade, à princípio, pois eu não tinha tanta coragem para realizar de verdade. À partir daí, obtivemos contato com vários casais do Brasil todo, passamos a "brincar" na internet, porém nada real, apenas web.
12/08/2014 - O tempo passou e um dia li uma reportagem com a atriz Alessandra Maestrini, onde ela assumia sua bissexualidade. Me senti motivada, cheia de coragem. Cheguei em casa, contei sobre isso para o meu marido e disse que gostaria de ter uma experiência bissexual. Ele gostou da idéia e passamos a selecionar casais com o mesmo interesse em bi feminino, falei para ele que queria um casal da mesma cidade, que a mulher tinha que ser bonita.
     Passamos algumas semanas selecionando casais e eu descartando vários deles, às vezes perdia um pouco da coragem, então arrumava um defeito e dizia que não queria conhecer aquelas pessoas. Uma noite estávamos navegando no mesmo site e dormi, ele continuou a busca por casais, e apesar de eu ter dito que teria que ser da nossa cidade, ele adicionou um casal da cidade vizinha.
     Então iniciamos conversas com o marido do outro casal, que logo passou o contato da esposa e começamos uma amizade virtual com o intuito de um encontro para nos conhecermos. Eu sempre conversava mais com ele, o marido, e o meu marido conversava sempre com ela, a esposa. Combinamos um encontro.
17/10/2014 - Nos encontramos pessoalmente pela primeira vez. Marcamos um encontro os quatro em um bar noturno em Franca-SP, com o objetivo de nos conhecermos para futuros encontros, caso houvesse afinidades. Quando chegamos ao bar, meu marido e eu, avistamos o casal abraçado na calçada.
     Ela estava de costas de maneira que eu não conseguia ver seu rosto, tive um certo receio nesse momento, afinal, sou o tipo de pessoa que aprecia a beleza física, apesar de contar como importantes outros fatores, como inteligência, por exemplo. Mas ela tinha tudo, pacote completo!!!
     Foi uma noite agradável, descobrimos afinidades entre nós duas, inclusive que ela trabalhava aos sábados no mesmo bairro em que eu trabalhava durante a semana. Gostei do casal, mas meu interesse maior era nela, óbvio. Interesse esse que só cresceu após esse encontro. Era linda, extrovertida, inteligente, e tinha o sorriso mais lindo que eu já tinha visto, o mais lindo do mundo!
     Após esse primeiro encontro, continuamos em contato através da internet e mensagens de celular. Combinamos de nos encontrar novamente, os quatro, em um bar na cidade onde eles moravam, e em seguida, seguiríamos para um motel.
01/11/2014 - Nos encontramos no bar, e após algumas horas, seguimos para o motel previamente escolhido pelo outro casal. O quarto era bonito, com uma cama grande que nos acolhia perfeitamente. Tivemos uma noite ótima, expectativas de nós todos atendidas.
     No outro dia pela manhã foi quando tudo mudou. Nós duas acordamos primeiro, no meio da cama, e tivemos um breve momento de afeto apenas nosso. Senti por ela um carinho tão grande que não cabia em mim, algo totalmente novo e inusitado, tive vontade de permanecer ali, junto dela, vontade de cuidar e não apenas por aquele momento, mas pro resto da minha vida.
     Mas a vida lá fora chamava e tivemos que nos despedir... enquanto voltava pra casa em mim ficava um vazio, uma sensação de algo que eu havia esquecido naquele quarto, uma saudade de alguma coisa ainda não vivida. Imediatamente percebi, era a falta dela que eu sentia. Valéria, a mulher que mudaria a minha vida para sempre.
     Desde então, comemoramos nosso relacionamento todo dia 1º de cada mês, um dia inesquecível para nós duas e determinante para nossa vida juntas.
     Nos dias que se seguiram continuamos em contato, ela e eu, e combinamos um novo encontro, dessa vez apenas nós duas, porém com outro intuito. Seria na minha casa, para uma terapia com massagens e aromas que eu havia prometido à ela.
19/11/2014 - Dia da nossa massagem na minha casa. Combinamos de nos encontrar a noite, meu marido estaria fora de casa para que pudessemos ficar à vontade, após algumas horas voltou pra casa trazendo o jantar, as coisas estavam  transcorrendo bem. Tudo aconteceu conforme o previsto e o que eu sentia por ela aumentava a cada dia. Resolvemos nos encontrar na minha casa toda semana, com a permissão dos dois maridos e assim continuamos, até que os problemas começaram a aparecer.
     Quando optei por criar um perfil no site de swing, tinha por objetivo apenas diversão, algo diferente para nós dois, meu marido pensava da mesma maneira, uma experiência apenas e depois conversaríamos sobre o assunto, continuar de vez em quando ou abolir definitivamente isso da nossa vida. Pensamos em várias coisas que poderiam dar errado, ciúme da minha parte, pela outra mulher com ele, ou dele, por me ver com outro homem, o risco de um se apaixonar pela mulher do outro etc. Por isso optamos por não efetuar troca, apenas coisas mais leves. Enfim, vislumbramos qualquer possibilidade das coisas não darem certo, menos o que para nós parecia praticamente impossível de acontecer, o amor entre as duas mulheres. Portanto, quem opta por esse tipo de coisa, precisa estar ciente dos riscos.
     O marido dela ainda contava com novos encontros entre os dois casais, porém eu já não vislumbrava nenhuma possibilidade disso acontecer, as coisas haviam saído totalmente do contexto, agora era entre eu e ela, homens fora. Visitamos a casa deles por duas vezes, porém sem nada acontecer entre os quatro. Meu marido respeitou isso, disse que aceitava desde que eu cumprisse com alguns acordos, do tipo, não me afastar dele jamais, não ficar no celular com ela quando ele estivesse em casa etc. Mas eu só pensava nela, vivia por ela, e as coisas foram se complicando quando eu já não conseguia esconder.
     Já o marido da Val não aceitou tão bem a possibilidade das duas mulheres se "divertirem" sozinhas. Para ele era uma questão meramente sexual, achava que não era justo nós não permitirmos que eles participassem, se sentiu rejeitado por mim e então proibiu os encontros. Óbvio que continuaram acontecendo e cada vez mais intensos, passávamos cada vez mais tempo juntas, dormíamos juntas na minha casa, meu marido no quarto ao lado. Por mais que eu valorizasse tudo o que ele fazia por mim, para me ver feliz, eu não conseguia corresponder às expectativas dele. E o inevitável aconteceu...
     Brigas e discussões intermináveis nunca ocorridas antes, cobranças vindas dele, me sentia muito pressionada e já não podia suportar a situação. Na casa dela era a mesma coisa, as duas pressionadas, cobradas por algo que não conseguíamos mais evitar, impossível haver o distanciamento que eles queriam e impunham.
     Na casa deles o problema era bem maior, após um tempo de contato percebi que o marido dela desenvolvia uma relação abusiva. Era o único dos quatro com experiências anteriores no meio liberal, estavam juntos há pouco tempo e ela morava na casa dele há menos de um ano. Ele a convenceu de desistir do emprego que ela tinha na mesma cidade que eu morava, e deu a ela uma vida confortável. Mas o preço era alto demais. Lá ela comandava a empregada da casa, administrava a rotina dos filhos dele e... teria que participar de vários encontros de swing, em troca da "vida boa" que ele proporcionava.
     No início Val cedeu, depois percebeu que não teria fim, e que ela não seria capaz de manter isso. Ele tentava todos os acordos possíveis, quis limitar um número de encontros em que ela teria que participar por ano, tirava fotos dela e exibia na internet. Até que ele começou as chantagens, quis me usar como moeda de troca, dizendo que só permitiria que ficássemos juntas se ele ganhasse algo também, se ela aceitasse encontros com outros casais. Quando ela negou, e passou a negar todas as negociações que ele tentava fazer, ele teve surtos gigantescos, o que trouxe à tona grandes problemas, ele simplesmente não consegue viver sem esse tipo de relação, o que para muitos é apenas diversão, algo diferente, para ele é extremamente necessário, um vício.     
     Quando ela começou a ameaçar ir embora, abandoná-lo caso ele insistisse nesse assunto, ele se desculpava, dizia que não ia obrigá-la a isso, dias após tinha crises de abstinência, a acusava de fazê-lo infeliz, de ser ingrata pelo dinheiro que ele dava pra ela, chantageava, chegava a combinar encontros e só depois falava, tentava forçar a situação. Ameaçava contar sobre nós duas para as pessoas da família dela, dizia que ela não tinha como viver sem ele, já que nem tinha mais emprego. Enfim, fez torturas psicológicas que pareciam não acabar.
     Enquanto toda essa tormenta acontecia, estávamos vivendo algo totalmente novo para nós, um amor mais forte do que tudo na vida, não dava para simplesmente matar isso, esquecer. Vivíamos um verdadeiro inferno em nossas casas, pensávamos sempre em como seria morar juntas, viver de verdade tudo o que a gente sentia, e nunca mais nos afastar ou deixar que terceiros comandassem a nossa vida. Após 4 meses do dia do motel, meu casamento teve fim.
04/03/2015 - Recebi flores da Val e isso surtou meu marido. A situação em casa já estava muito ruim, ele ainda lutava pelo casamento, para que eu não o deixasse. Tentei me esforçar também, mas era mais forte do que eu, não consegui. Apesar do remorço que eu sentia, de toda a culpa por estar destruindo a família do meu filho, por estar machucando tanto a pessoa maravilhosa que tive por 8 anos ao meu lado, me apoiando em absolutamente tudo, não pude controlar, precisava ser livre.
     Nesse dia ele me exigiu uma posição definitiva, disse que já não dava para manter a situação como estava e eu tive que fazer uma escolha. Foi terrível, difícil. Eu, tão racional sempre, agi pela primeira vez movida pela emoção.
     Saí de casa por decisão dele, fui para a casa dos meus pais. Foram os piores dias da minha vida, fiquei muito triste, chorei muito por alguns dias, depois passou. Entendi que deveria seguir em frente, sem programar o futuro e deixar que as coisas acontecessem. As pessoas a nossa volta não entendiam nada do que estava acontecendo, questionavam como poderia ter acabado um casamento que parecia tão perfeito, um casal que se dava tão bem.
     Alguns dias depois, revelei o motivo de tudo para meus pais, irmã e cunhado, não podia permitir que eles julgassem meu marido, que não tinha culpa de nada. Choque total. Começava mais uma maratona de dificuldades a serem enfrentadas e superadas. Novamente sofri, chorei, entristeci, mas permaneci forte. Os momentos de maior tristeza eram mais por causa do ex marido do que qualquer outra coisa, ainda hoje sofro por ele, ainda entristeço. Inevitável.
     A reação da minha família foi surpreendente e ao mesmo tempo decepcionante. Meu pai adotou a postura de "não aceito, mas respeito", melhor assim, pelo menos não tive que ouvir os desaforos que esperava. Minha irmã e cunhado seguiram essa mesma linha de pensamento, já minha mãe se manteve quieta por alguns dias e depois enfureceu. Não foi capaz de conversar comigo, preferiu escrever mensagem, me disse todos os desaforos e ofensas possíveis e imagináveis e ainda me exigiu que não contasse para ninguém da família. Me culpou por um monte de coisa e por estar arruinando a vida do meu filho, como se eu já não me sentisse culpada o suficiente.
     Enfim, segui morando na casa dela com meu filho, eu não tinha outra opção. E então, passando os dias ela passou a me ofender pessoalmente mesmo, as mensagens já não eram mais necessárias. Eu respeitava e ignorava a maior parte das ofensas, depois achei que ela não merecia, porque quem quer respeito, respeita também. Mas segui em silêncio, fingia que não ouvia, fingia que não era comigo, fingia que as histórias que ela contava pras pessoas sobre a "falta de vergonha" de homossexuais não me atingiam. Histórias essas ditas em voz alta para que eu ouvisse. Ignorei tudo, engoli, digeri e passou.
     Enquanto isso, Val tomou a decisão que ela achava correta e decidiu se separar também. Fiquei assustada à princípio, não queria que ela tomasse decisões precipitadas motivada por mim, tive receio sobre o futuro dela e tentei deixá-la livre. Disse que pretendia reatar meu casamento, reconstruir minha família e seguir na vida que eu tinha antes. Novamente sofri, entristeci. Queria que ela tivesse certeza do que estava fazendo e dar a ela a chance de seguir com a vida confortável que ela tinha, consertar as coisas com  o marido, sem nenhuma interferência minha.
     Mesmo assim, felizmente (confesso), ela se separou e veio para a minha cidade, morar com uma amiga. Alguns dias depois, eu continuava me comunicando com ela via mensagens, quando ela decidiu que deveríamos nos afastar, devido à minha reconciliação com o ex, seria melhor assim. Eu não poderia suportar a distância e então contei à ela que não havia reconciliação alguma, eu continuava na casa da minha mãe.
     Reatamos e iniciamos nossos planos de uma vida longa e feliz juntas...
20/04/2015 - Val alugou um apartamento. Meus problemas com a minha mãe estariam resolvidos em breve, que alívio! Ela continuava na casa da amiga, que já sabia de tudo sobre nós, e apesar do receio inicial sobre mim, aceitou, nos acolheu, respeitou de verdade. Depois foi a vez de algumas pessoas da família dela saberem a verdade, a acolhida não foi a mesma, isso a fez sofrer, chorar e eu a me questionar se estava mesmo fazendo bem a ela.
20/06/2015 - Hoje em dia, juntas há 7 meses, percebemos que o preconceito na verdade surge de pessoas muito próximas, que embora dizem que nos amam acima de tudo, não conseguem lidar com nossas escolhas, como se amassem condicionalmente, desde que atendamos às expectativas delas. Claro que isso machuca, faz sofrer, mas atinge muito mais à ela do que a mim. Questão de personalidade mesmo, afinal eu me afasto e consigo lidar bem com isso, não preciso de amor condicional das pessoas. Já Val é mais frágil, necessita das pessoas que ela ama por perto, mesmo que a machuquem. Hoje minha convivência com o ex marido é boa, pacífica, ele entendeu que precisa me deixar ir, embora nós ainda sofremos com a situação. Questão de tempo. Já a convivência da Val com o ex marido dela é praticamente inexistente, ele ainda aparece de vez em quando, chantageia, ameaça contar tudo para a família dela, diz que ela acabou com a vida dele e dos filhos, joga covardemente pra cima dela todos os problemas que ele já tinha antes dela aparecer na vida dele. Vamos lidando, fazer o que? Apenas mais um obstáculo, um dia acaba.
     Apesar das dificuldades iniciais superadas, novas surgem todos os dias na nossa vida. Alguém que fere, que fala demais, nossa vontade de abrir o jogo e assumir tudo para algumas pessoas importantes pra nós, mas que sabemos que o choque será grande demais. Porém é necessário que aconteça, talvez nem seja tão ruim quanto imaginamos e não nos sentimos bem escondendo nossa felicidade de familiares e alguns amigos. Meus amigos mais próximos já sabem de tudo, alguns apoiaram, outros se distanciaram, faz parte da vida, todo mundo deve ter direito de escolher conviver ou não com a situação. Quanto aos familiares, alguns parentes meus sabem e até agora não sofri rejeição, embora saiba que acontecerá quando alguns souberem, mas creio que a aceitação será uma questão de tempo. 
     Penso que tudo o que aconteceu até agora foi e continua sendo aprendizado. No início foi difícil até para nós mesmas aceitar o amor por outra mulher, mas foi inevitável, já não dava para apagar nossa história. A história do amor mais puro e verdadeiro que já sentimos. Tudo é uma questão de decisão, e decidimos não deixar que a hipocrisia e falsa moralidade ditassem as regras da nossa vida e nosso destino. Decidimos não ter que olhar para trás no futuro e perceber que vivemos em vão, que não fomos felizes por que deixamos que o preconceito estragasse nossas vidas, hoje assumimos as rédeas e arcamos com as consequências de nossas escolhas, conscientes das dificuldades que teremos pela frente.
     O que nos resta é a certeza de que o amor, seja de que forma for, supera tudo e de que podemos enfrentar todos os problemas que certamente surgirão a cada dia, contando sempre com o carinho daqueles que nos acolheram, que respeitam de verdade, que realmente nos amam incondicionalmente, esse sim é o amor que vale a pena na vida!!! Obrigada a todos...
    Quero desejar à você, que gastou parte do seu tempo lendo isso, que encontre o seu amor verdadeiro, o seu final feliz, o sorriso que estremeça a sua vida e que faça do seu mundo o mais bonito!!
     "Cuide bem do seu amor, seja quem for" - Herbert Vianna.